domingo, 7 de dezembro de 2008

As imagens da semana

Estava a andar por Lisboa e no cruzamento da Rua Pinheiro Chagas com a Rua Dr. António Cândido, reparei numa árvore diferente...
"Diferente" porque há muito deixou de ser árvore, no verdadeiro sentido da palavra, e foi cortada, mas (e sabendo do amor que o povo português nutre por elas, especialmente quando se trata de podas...) o cepo continua no mesmo local (e no mesmo passeio estão dois cepos, ambos sofreram igual fúria destruidora) e voltou a rebentar!
Fiquei sem reacção porque a ignorância, arrogância e malvadez humana são impressionantes. E quem faz esses actos são funcionários/técnicos (especializados?????) pertencentes ao departamento de ambiente e zonas verdes dos serviços camarários... Valha-nos Deus!
Essa "árvore" serve de local para alimentar alguma colónia de gatos, porque ao lado do seu tronco estão dois recipientes em plástico, um com água e outro vazio provavelmente para comida.
A zona é propícia à destruíção, porque nas duas esquinas do cruzamento existem dois magníficos exemplares de arquitectura antiga (tipo palacete, um deles com um jardim considerável) abandonados e com um cartaz mencionando que o processo se encontra em fase de licenciamento para restaurar (atenção, porque em Lisboa restaurar quer dizer destruir e fazer uma atrocidade...).
Fiquei ali algum tempo a contemplar tamanha tristeza e a pedir a Deus que salve este país, este povo, esta árvore (tenho cá para mim que Deus também ama muito as árvores)...
Voltarei a visitá-la (Esperança de seu nome!) para dizer que é uma heroína, que faz crescer a motivação/alento a todos os fracos e oprimidos desta sociedade corrupta, egoísta, incompetente, cruel e sem respeito pelos outros (quer sejam humanos, animais ou vegetais). Voltarei para dizer-lhe que admiro a sua nobreza de tentar resistir quando tem tudo e todos contra si... E que os seus braços estão quase a tocar o céu, para não desistir, porque um dia (tenho a certeza) ela cumprirá o seu sonho!
Emocionei-me e emociono-me por esta Esperança, porque também eu estou a tentar resistir e acreditar que um dia serei feliz.
Se tiverem tempo, vão visitá-la e aprendam uma grande lição de Vida.








"Descobríamos que a vida não tem sentido se não nos trocamos pouco a pouco. A morte do jardineiro não é coisa que lese uma árvore. Mas, se tu ameaças a árvore, então o jardineiro morre duas vezes."
Saint-Exupéry, "Cidadela", ed. Presença, trad. Ruy Belo

6 comentários:

Paulo J. Mendes disse...

Se as árvores tivessem pernas para fugir, há muito que este País seria o deserto em que irremediavelmente se tornará.

Maria Lua disse...

Paulo,

é isso mesmo, com tristeza, um deserto de País!

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Até na morte as árvores têm uma dignidade difícil de encontrar num mundo com tanta falta de humanidade.

Obrigado pelo teu texto. São palavras sinceras e sentidas como estas, que ajudam a mudar mentalidades.

Maria Lua disse...

Obrigado Pedro.
Tentamos manter a Esperança viva...

Miguel Rodrigues disse...

Junto-me ao Pedro ao agradecer estas palavras que me tocaram até aos ossos.

Aqui te deixo uma ideia: porque não deixas na própria arvorezinha uma mensagem com este desabafo pungente em que todos nos unimos? Colada com gaze e adesivo, para que se veja que alguém ainda cuida e se preocupa com ela.

Se uma única pessoa que passe nessa esquina se sentir tão tocada como eu... já valeu a pena!

Quem sabe isto não faz moda... :-)

Maria Lua disse...

Muito obrigado Miguel, pelas palavras e pela sugestão.
Era bom que se tornasse moda para Portugal se transformar numa abundante floresta!
:-)