segunda-feira, 23 de março de 2009

Andorinha-das-chaminés

"Sendo um símbolo primaveril, à semelhança do que acontece com outras andorinhas, as Andorinhas-das-chaminés reúnem-se em grandes bandos, em fios eléctricos, preparando-se para a migração outonal rumo ao sul: numa imagem única e inesquecível.

CARACTERÍSTICAS E IDENTIFICAÇÃO
Pertencente à família Hirundinidae, que engloba todas as andorinhas que ocorrem na Europa, a Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) possui a cauda nitidamente bifurcada com longas penas caudais (2-7 cm), que a tornam facilmente identificável, apenas confundível com a Andorinha-dáurica (Hirundo daurica). No entanto, distingue-se desta pelo facto de não apresentar as penas do uropígio de cor branca e ferrugem, ter a nuca da mesma cor que o dorso e ter pequenas manchas brancas quase na extremidade das penas da cauda. A Andorinha-das-chaminés tem entre 17 e 19 cm de comprimento e 32 a 34,5 cm de envergadura. À semelhança das outras aves desta família, possui bico curto e escuro, corpo esbelto e asas compridas. A cabeça, dorso, cauda e asas (com excepção das penas de voo que são pretas) são azuladas; as faces e garganta são avermelhadas e o peito e a barriga são brancos. Tem um voo leve e hábil, tipicamente com rápidas mudanças de direcção, seguindo os movimentos dos insectos que persegue.
DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA
Ocorre como nidificante em grande parte da Eurásia, Norte de África e América do Norte. Cerca de 15% da área de distribuição mundial está situada na Europa, onde só está ausente na tundra árctica. Embora algumas populações europeias sejam insuficientemente conhecidas, uma estimativa feita nos anos 90 aponta para a existência de 13.000.000 a 33.000.000 casais na Europa, sendo principalmente a Rússia, a Alemanha, a Polónia e a Bulgária, mas também o Reino Unido, Espanha, Portugal, Itália, República Checa, Croácia, Ucrânia e Bielorússia, os países com maior importância para esta espécie. Em Portugal, cuja população foi estimada em 1.000.000 casais, ocorre como nidificante em todo o território continental, sendo acidental na Madeira e nos Açores. Apesar de não ser invernante, a Andorinha-das-chaminés está presente em Portugal durante todo o ano, uma vez que existem aves que migram para as áreas de invernada apenas em Novembro ou mesmo Dezembro e há outras que chegam ao nosso país no mês de Janeiro.
ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO
Na Europa, a grande maioria das populações de Andorinha-das-chaminés apresentou um declínio entre os anos 70 e 90, nomeadamente na Escandinávia, Noroeste e Centro da Europa, países do Báltico, Roménia, Ucrânia, Espanha, Itália e Croácia. Em Portugal as populações apresentam estabilidade e a espécie goza do estatuto de não ameaçada.
FACTORES DE AMEAÇA
Alterações nas práticas agrícolas, que levaram à intensificação da agricultura e à consequente perda do habitat, estarão certamente na base do registado declínio populacional desta espécie. A drenagem de áreas húmidas e o uso de herbicidas e pesticidas resultam na diminuição da disponibilidade de alimento e de áreas propícias à alimentação. As andorinhas são ainda extremamente susceptíveis às alterações do clima. O mau tempo é responsável por uma redução no número de insectos, afectando o sucesso reprodutor e, especialmente durante a migração, aumentando a mortalidade destas aves.
HABITAT
Esta espécie nidifica no Paleárctico Ocidental, desde o Subárctico, passando por áreas de clima boreal, temperado e mediterrânico, tanto em zonas continentais, como oceânicas, estando apenas ausente do Árctico e do deserto. Os habitats de alimentação preferidos são as pastagens, prados e zonas húmidas, onde abundam os insectos essenciais à sobrevivência destas aves. Em relação à nidificação, nomeadamente ao local de construção de ninhos, trata-se de uma espécie maioritariamente dependente da presença de construções humanas. A existência de uma área que constitua uma fonte de lama é imprescindível para a construção dos ninhos.
ALIMENTAÇÃO
A Andorinha-das-chaminés alimenta-se quase exclusivamente de insectos voadores, na sua maioria dipteros, perseguindo-os com um voo extremamente hábil e eficaz. Captura também, embora esporadicamente, insectos não voadores, principalmente em épocas do ano em que estes existem em grande abundância.
REPRODUÇÃO
De um modo geral, e ao contrário de algumas outras espécies de andorinhas, a Andorinha-das-chaminés nidifica solitariamente, podendo, em determinadas ocasiões, ser colonial. Neste último caso as colónias tendem a ser de reduzidas dimensões (menos de 5 casais) podendo, no entanto, ser muito maiores. Os ninhos são construídos principalmente em construções humanas, usando lama misturada com algum material vegetal. A época de postura ocorre entre Março e Maio, sendo mais precoce no Sul da Europa e no Norte de África, e engloba geralmente duas posturas com 4 a 5 ovos. A incubação prolonga-se por 11 a 19 dias e os juvenis atingem a idade de emancipação cerca de 20 dias depois de nascerem.
MOVIMENTOS
Esta é uma espécie migradora. As aves europeias e do Noroeste Asiático são maioritariamente migradoras de longa distância, invernando em África, a sul do equador, mas também no Ocidente. A migração inclui movimentos no deserto trans-Saariano e também no Médio Oriente. As aves jovens iniciam os movimentos de dispersão no mês de Julho, mas a migração outonal propriamente dita só começa em meados de Setembro, podendo prolongar-se até Dezembro. A migração pré-nupcial ocorre em Fevereiro, Março e Abril, excepcionalmente começando mais cedo, em Janeiro. Algumas aves de países mediterrânicos de Leste são residentes ou parcialmente residentes.
CURIOSIDADES
De um modo geral, o sucesso reprodutor dos machos depende significativamente do comprimento das penas da cauda: os machos com penas mais compridas atraem mais facilmente as fêmeas e têm maior sucesso reprodutor que os machos com penas mais curtas.
LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO
Esta é uma espécie que não oferece dificuldades no que respeita à observação, uma vez que ocorre em todo o continente, sendo bastante comum principalmente nos meses de reprodução. Nos meses de Inverno, nomeadamente em Dezembro e Janeiro, o número destas aves em Portugal é muito reduzido, sendo mais provável a sua observação no Sul do país e junto a zonas húmidas.
BIBLIOGRAFIA
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Snow, D.M. e C.M. Perrins (Eds.) (1998). The birds of the Western Palearctic. Concise Edition; vol. 2 Non passerines. Oxford University Press.
Tenreiro, P., J. Petronilho, D. Rodrigues, N. Paulino, H. Araújo, M. Caldeira e C. Dias (1999). Monitorização de dormitórios de Andorinha-das-chaminés Hirundo rustica na região Centro-Litoral de Portugal. In Beja, P., P. Catry e F. Moreira (Eds.) Actas do II Congresso de Ornitologia da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. SPEA, Lisboa.
Tucker, G.M. e M.F. Heath (1994). Birds in Europe: Their Conservation Status. Birdlife Conservation Series nº 3. "

Teresa Catry
In site Naturlink

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