segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Alunos do ensino público bebem cada vez mais

Foi apresentado, em Lisboa, um estudo que revela uma tendência para a diminuição das percentagens de consumidores de álcool e do tabaco, mas um aumento dos consumos mais intensivos.
No que respeita às drogas, a mesma investigação mostra uma diminuição nas percentagens de experimentação e de consumidores actuais mas um aumento de consumidores recentes.
O «Estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco e Drogas – 2011» foi realizado por Fernanda Feijão e Elsa Lavado, do Instituto da Droga e da Toxicodependência, durante o mês de Maio de 2011. Para a investigação foram inquiridos 13 mil alunos do ensino público, entre os 13 e os 18 anos de idade, do 7º ao 9º ano de escolaridade.
O objectivo desta investigação é “acompanhar a evolução dos consumos de substâncias psicoactivas pelos alunos do ensino público”, em Portugal, afirma Fernanda Feijão ao Ciência Hoje.
Das conclusões mais importantes, a coordenadora do estudo destaca o facto de haver “menos alunos a experimentar mas os que já experimentaram consomem mais vezes, em maiores quantidades e bebidas com maior teor alcoólico”. Ainda sobre o consumo de álcool, a investigadora diz que “os aumentos nas percentagens de consumidores com comportamentos de consumo intensivo são maiores nas raparigas do que nos rapazes”. Situação algo semelhante à do consumo de tabaco: “menos consumidores experimentais (longo da vida) mas mais consumidores actuais (nos últimos 30 dias)”.
Quanto às drogas, a responsável sublinha o “decréscimo das percentagens de experimentação e de consumidores actuais mas aumento das percentagens de consumidores recentes”.
Os resultados obtidos com o estudo “causam necessariamente preocupação”, afirma Fernanda Feijão, uma vez que “os efeitos nocivos dos consumos das substâncias psicoactivas assumem particular gravidade em pessoas em idade de crescimento, podendo por isso mesmo ter consequências a longo prazo que os adolescentes que se envolvem nestes comportamentos de risco”. Por outro lado, a investigadora fica “perplexa” com o facto de continuarem a existir elevadas percentagens de alunos entre os 13 e os 15 anos que referem quer consumos mais moderados quer consumos intensivos de álcool, tanto mais que o consumo de álcool é proibido a menores de 16 anos.
Segundo Fernanda Feijão, é necessário “um investimento acrescido, em particular na prevenção do consumo de álcool pelos mais jovens e do consumo intensivo pelos mais velhos”.
A informação “actualizada e credível” que este estudo disponibiliza é, na sociedade actual, um “factor crítico no apoio à tomada de decisões” tanto a nível político como ao nível técnico na programação de intervenções que respondam às necessidades da sociedade ou das pessoas a nível individual, explica a responsável.
Fernanda Feijão avança que os próximos passos na investigação passam por “consolidar os dados agora publicados, analisar os dados relativos às atitudes, percepções e crenças e finalizar o relatório” que contam publicar antes do final do ano. “Temos mais estudos em curso, na fase de análise e elaboração de relatórios, pelo que vamos concentra-nos nesse trabalho antes de iniciar outros estudos que já estão planeados”, conclui.

Sobre o estudo
A ideia para o «Estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco e Drogas» (ESPAD – European School Survey on Alcohol and other Drugs) surgiu a nível europeu com uma proposta da Suécia (CAN- The Swedish Council for Information on Alcohol and other Drugs) para a realização de um estudo periódico nos países europeus que permitisse seguir a evolução dos consumos de álcool, tabaco e droga nos alunos. Este estudo tem a periodicidade de quatro anos. Realizou-se em 1995, 1999, 2003, 3007 e 2011. A responsabilidade do estudo é de uma rede de investigadores independentes que em cada país recebe o apoio de instituições de referência para a sua realização. Portugal participa desde o início. Até 1999, a coordenadora nacional do ESPAD foi Luísa Machado Rodrigues e desde 2000 que é Fernanda Feijão.

Susana Lage
in Ciência Hoje

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