quinta-feira, 19 de abril de 2012

Católicos são os que têm menos fé no futuro do país

Sondagem mostra que os católicos são, de entre todos crentes, os mais preocupados, os que menos se divertem e os que menos praticam
É a maior sondagem sobre religiões feita em Portugal nos últimos anos. O estudo “Identidades religiosas: representações, valores e práticas”, encomendado no ano passado pela Igreja à Universidade Católica (UC), foi ontem apresentado em Fátima, durante a assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
Mas os resultados do inquérito – a que responderam quase quatro mil portugueses – estão longe de ser favoráveis à Igreja e aos próprios fiéis. As conclusões mostram, por exemplo, que os católicos são, de entre todas as religiões, os mais preocupados em relação ao futuro do país: mais de 68% disseram sentir “preocupação e inquietação” face à actual conjuntura nacional. No caso dos protestantes e dos evangélicos, a percentagem de “inquietação” desce para os 38,6%. Respondendo à mesma pergunta, quase 20% das testemunhas de Jeová disseram ser “indiferentes” à situação do país. “Atitude porventura decorrente da visão apocalíptica que descreve o seu universo crente”, sublinha o coordenador do inquérito, Alfredo Teixeira, do Centro de Estudos de Religiões e Culturas da UC. Além de pessimistas, os católicos parecem ser também o grupo que menos se diverte aos fins-de-semana. A maioria dos membros da Igreja Católica passa os tempos livres “em casa, a descansar” (41,6%) ou então a arrumar a habitação (24,6%). Neste ponto, não acreditar em Deus parece trazer vantagens: a maior parte dos não-crentes, mostra a sondagem, também prefere ficar em casa a descansar durante as folgas, mas 35,9% dizem aproveitar para dar passeios e 11,9% vão a bares e discotecas (locais frequentados por apenas 2,2% dos membros da Igreja Católica).
Os católicos são, por outro lado, o grupo que menos trabalha fora dos dias úteis. Só 18,8% disseram ter passado o fim-de-semana anterior ao inquérito a trabalhar, enquanto que mais de metade das pessoas sem religião o tinha feito, à semelhança de 25% das testemunhas de Jeová.
Quase metade não pratica
E também não se pense que os católicos passam os domingos enfiados na igreja: 12,2% assumem que só vão à missa “raramente ou menos de uma vez por ano” e 8% chegaram mesmo a confessar que nunca vão. Apenas 23% garantiram frequentar a igreja todos os domingos e dias santos. O estudo conclui que 25% dos fiéis portugueses são apenas “católicos ocasionais”. Os números vão mais longe no que toca à prática do catolicismo, com 43,9% dos católicos a assumirem que não são praticantes. Aliás, de todas as religiões, a Igreja Católica é a que menos fiéis praticantes tem: mais de 84% dos protestantes e evangélicos dizem-se praticantes, bem como 75% das testemunhas de Jeová. Sobre as razões pelas quais os católicos são praticantes, a educação e a tradição familiar lideraram as respostas. Quanto às razões para não praticarem, os católicos invocam a falta de tempo (24,9%) e o entendimento “de que é possível ter fé sem prática religiosa” (23,5%). Mas mais de 16% confessaram que não praticam mesmo por “desleixo ou descuido”.
Pronúncia do Norte
Os resultados globais da sondagem mostram que a Igreja Católica perdeu fiéis, ao contrário de todas as outras religiões. Em 1999, 97% da população dizia-se católica. O número desceu agora para os 93,3%. Os protestantes e os evangélicos cresceram 2,3%, as testemunhas de Jeová 0,5% e os outros cristãos aumentaram 0,1%, enquanto que as religiões não-cristãs subiram 0,6%. O grupo que mais aumentou foi o de não-crentes: um total de 6%. De resto, 10,7% das pessoas contactadas na sondagem confessaram que eram católicas, mas que se converteram, num determinado momento, a outra religião. Outra das conclusões mostra que, à medida que os anos vão passando, os católicos vão-se distanciando da prática da religião: 87,9% dizem que foram baptizados e 72,6% fizeram a primeira comunhão, mas só 47,5% chegaram a completar o crisma. O estudo mostra também que a maioria dos católicos são mulheres (56,4%), vivem no Norte (43,6%) e no Centro (20%) do país e principalmente em zonas rurais (44,1%). Já a maioria dos não crentes são homens (71,1%) e mais de metade vivem em zonas urbanas. Cerca de 18% dizem não acreditar em nada por “convicção pessoal” e 17,7% afirmam não concordar com a doutrina de “nenhuma igreja ou religião”.
O porta-voz da CEP desvalorizou ontem a perda de católicos. Manuel Morujão garante que o essencial é a “qualidade” dos fiéis e considera que os números são um “desafio” para a Igreja. “Quem é católico é porque quer e não por pressões familiares e sociopolíticas”, rematou.

Por Rosa Ramos, in I online

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