quarta-feira, 4 de abril de 2012

Perdoar faz bem

O “perdão” é um sentimento complexo, uma palavra pouco usada e demasiado associada à religião. Embora o caminho não seja fácil, os benefícios do perdão estão comprovados em vários estudos realizados nos últimos 20 anos nos Estados Unidos. Dois dos principais investigadores desta área garantem ao Boas Notícias que, saber perdoar, pode mudar a vida de indivíduos, casais, sociedades e até nações. P.M.
Toda a gente tem na sua cronologia pessoal uma mágoa por perdoar. Talvez uma pessoa próxima tenha traído a sua confiança. Talvez um ente querido o tenha magoado ou humilhado. Talvez tenha sido alvo de um roubo ou de outro crime por parte de um estranho.
Saber perdoar quem (ou o que) nos magoa não é um processo simples. Mas, garantem os estudos dos últimos anos, esta capacidade confere vantagens mentais e físicas: um sistema imunitário mais forte, menos riscos de ataques cardíacos, mais autoestima, um maior domínio das capacidades mentais e de tomadas de decisão, melhores relações interpessoais. Por fim, a capacidade de perdoar previne o abuso de substância e a depressão.
Contudo, não é fácil definir o próprio conceito de perdão. Everett L Worthington (na foto), psicólogo e professor da Universidade da Virgínia que estuda o perdão há mais de 15 anos, afirma que este conceito não tem uma definição consensual mas defende que é necessário distinguir dois tipos de perdão: o exterior e o emocional.
Segundo o mesmo investigador, o primeiro conceito é superficial – e pode até funcionar como uma forma de magoar o agressor mostrando desprezo ou superioridade. Embora ajude “a reduzir a hostilidade” este tipo de perdão “não reduz, necessariamente, as situações de stress”. Já o perdão emocional exige uma "alteração a nível interpessoal e de comportamento" trazendo os benefícios referidos acima.

“Dar a outra face” não é sinónimo de perdão
Em declarações ao Boas Notícias, o investigador sublinha, no entanto, que perdoar não significa dar a outra face. Questionado sobre se devemos aprender com as situações que nos magoaram, para evitar que se repitam, o psicólogo é categórico: “absolutamente”.
“O perdão acontece dentro de nós, é uma decisão sobre como vamos passar a agir e implica uma alteração emocional” mas “aprender a mudar o nosso comportamento no futuro” é um dos pontos fundamentais para evitar novas agressões, defende o psicólogo.
Também o psicólogo norte-americano Fred Luskin, responsável por vários estudos e livros relacionados com o perdão, sublinha, ao Boas Notícias, este ponto afirmando que é “importante tirar lições da experiência” e acrescentando ainda que é também fundamental que “as pessoas saibam perdoar-se a si próprias quando cometem um erro”.
Ou seja, em situações de agressão (física e emocional) a vítima tem, por vezes, alguma responsabilidade - por exemplo um comportamento demasiado permissivo pode resultar em abusos emocionais e uma atitude de descuido com os seus bens pessoais que pode resultar num furto. Por isso, aprender a perdoar passa também por assumir a nossa responsabilidade nas agressões e evitar que voltem a acontecer.

Raiva construtiva
Luskin sublinha ainda que sentimentos negativos como a raiva podem ser úteis se aprendermos com eles. É aquilo a que chama “raiva construtiva”. “A raiva pode ser positiva se a usarmos para nos tornarmos mais fortes, mais assertivos, para mostrar que estamos contra determinado comportamento”, diz o psicólogo numa das suas palestras. Mas a raiva, continua Luskin, deixa de ser positiva quando se torna um “sentimento persistente que não conduz a situações construtivas”.

“Perdoar não significa permitir ou aceitar”, salienta o psicólogo no seu site pessoal Learn to Forgive (Aprender a Perdoar), associado à Universidade de Stanford. Pelo contrário, perdoar é reconhecer que “algo está errado” e “implica recuperar a capacidade de confiar e de amar, deixando de culpar os outros pelos nossos problemas emocionais”.

in Boas Notícias

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