segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Loureiro, símbolo do triunfo nas culturas mediterrânicas

O Loureiro (Laurus nobilis L.) é uma das plantas mais simbólicas do mediterrâneo. A coroa de louros foi utilizada nos Jogos Olímpicos da Antiga Grécia para premiar os atletas vencedores. Mais tarde, na Roma Antiga, os Imperadores usaram ainda a coroa de louros, em honra do deus Apolo e como símbolo de distinção e glorificação. O próprio termo laureado quer dizer, etimologicamente, coroado de louros. O Loureiro é, sem sombra de dúvida, o símbolo do triunfo nas culturas mediterrânicas.

O loureiro está associado a uma lenda da mitologia clássica – a lenda do deus Apolo (deus da Música e das Artes) e da ninfa Dafne (que em grego arcaico significa exactamente Loureiro). Reza a lenda que Apolo foi tomado de amores pela ninfa Dafne, a qual lhe tentava escapar como se tivesse “asas nos pés”. Cansada de fugir, Dafne pediu ao seu pai que a salvasse mudando-lhe a forma do corpo, e, quando Apolo estava quase a tocar-lhe nos cabelos, Dafne foi transformada num loureiro. Impotente perante esta transformação, Apolo abraçou o Loureiro e declarou que esta seria a sua planta preferida, que eternamente o acompanharia e que usaria as suas folhas sempre verdes como coroa participando em todos os seus triunfos, consagrando com a sua verdura as frontes dos heróis. É, igualmente, uma das plantas que se utilizam tradicionalmente (a par da Palmeira e da Oliveira) nas celebrações cristãs do “Domingo de Ramos”, no início da Semana Santa.
Os louriçais são formações arbustivas em que o Loureiro domina. Na maioria dos casos, os louriçais são vestígios da vegetação Macaronésia (do grego macaros que significa ilhas e nesia que significa afortunadas), pois actualmente estas comunidades são apenas dominantes nas ilhas atlânticas. No continente não são muito frequentes, encontrando-se apenas como comunidades reliquiais. Em Portugal continental podemos encontrar estas relíquias em quase todo o território, contudo a sua composição diferencia de Norte para Sul. Relativamente aos louriçais do Noroeste dominam as plantas atlânticas na sua composição, algumas delas caducifólias, por sua vez, no Centro e Sul são essencialmente constituídos por plantas mediterrânicas.
O loureiro, nativo da região mediterrânica, pertence à família das Lauraceae, família grande em que as árvores são de folhas aromáticas, de flores pequenas e pouco vistosas e em que o fruto é uma drupa. Em Portugal continental temos o loureiro (Laurus nobilis), mas na Madeira podemos encontrar quatro espécies pertencentes a esta família – Apollonias barbujana, Laurus novocanariensis, Ocotea foetens e Persea indica – e nos Açores outra espécie de loureiro (Laurus azorica). A esta família pertence igualmente o abacateiro (Persea americana) e a árvore-da-canela (Cinnamomum verum).
Árvore perenifólia, de folhagem verde escura, glabra (sem pêlos), luzidia, coriácea, de aroma característico, sendo muito utilizadas na culinária. Pode atingir os 20 metros de altura, apesar de raramente ultrapassar os 10 metros. De copa algo irregular, ovada, tronco erecto, ritidoma (parte da casca das plantas formada por tecidos mortos) liso e de cor castanho-esverdeado-escuro. Floresce entre Fevereiro e Maio, com flores amareladas unissexuadas, ocorrendo masculinas e femininas em indivíduos diferentes, denominando-se por isso de espécie dióica. O fruto é uma drupa ovóide, negra, não comestível.
O loureiro prefere climas temperados, dificilmente aguentando um grande número de dias com temperaturas negativas e geadas constantes. Por outro lado, nos locais com temperaturas mais elevadas e fraca precipitação verifica-se a sua ausência. Embora surjam em quase todo o território mediterrânico como espécie cultivada, especialmente devido à sua utilização na culinária e à utilização da sua madeira, é nos locais húmidos e sombrios que encontra as melhores condições para o seu desenvolvimento. É pouco exigente no que respeita ao tipo de solo, preferindo, contudo, solos leves e frescos, embora também seja possível encontrá-la em solos secos e pedregosos. A sua propagação efectua-se por semente, rebenta bem pela toiça (porção remanescente após o corte do tronco de espécies lenhosas) e raízes.
O loureiro encontra-se distribuído por toda a zona mediterrânica, sendo que em Portugal pode ser observado de Norte a Sul, essencialmente na zona mais litoral.
Para além das suas propriedades culinárias, o louro apresenta igualmente propriedades medicinais: uma infusão das suas folhas ajuda a combater a falta de apetite e espasmos gastro-intestinais; a sua casca será boa para problemas de fígado e para quebrar a pedra dos rins. Na alimentação tem a capacidade de ajudar à decomposição dos alimentos pesados. O seu óleo pode ser eficaz contra as pulgas, as baratas e as traças.
A Sibila de Delfi na Grécia Antiga sentava-se sob um tecto de folhas de louro e mastigava as folhas para assim entrar em estado de transe. O loureiro encontrava-se também consagrado a Dionísio deus do vinho. Tem ainda como valor simbólico a vitória e a paz e, segundo algumas lendas, esta seria a única árvore que não era atingida pelos relâmpagos das trovoadas.
É, efectivamente, uma planta que para além do seu valor ecológico representa um elevado valor cultural.

Ficha técnica:
Família: Lauraceae
Género: Laurus
Espécie: Laurus nobilis L.
Nome vulgar: Loureiro, Loureiro-vulgar; Loureiro-comum, Loureiro-dos-poetas; Louro; Sempre-verde.
Aspecto: arbusto ou árvore perenifólia, que pode atingir até 20 metros, embora o normal seja ir até aos 10 metros; copa algo irregular, ovada, tronco erecto, ritidoma liso e de cor castanho-esverdeado-escuro; ramos erectos, verde-escuros, com raminhos delgados, verdes na parte inferior e avermelhados nas extremidades.
Folhas: verde escura, glabra, luzidia, coriácea, de aroma característico, oblongo-lanceoladas, de 5–10 centímetros de comprimento por 4 de largura, de margem inteira, pecíolo vermelho escuro; nervuras secundárias pouco salientes, não atingindo claramente a margem.
Flores: Espécie dióica que floresce entre Fevereiro e Maio; flores unissexuadas, que se desenvolvem na axila das folhas, verde e vermelhas na gema e amarelas quando abertas.
Fruto: drupa carnuda ovóide 1 a 1,5 centímetros de comprimento, verde brilhante no início ficando negra com o amadurecimento no principio do Outono (Outubro/Novembro), não comestível.
Habitat: prefere climas temperados, tendo dificuldade em suportar grande número de dias com temperaturas negativas e geadas frequentes, não suporta locais de temperaturas estivais elevadas e fraca precipitação; altitude máxima onde o podemos encontrar são os 800 metros; zonas húmidas e sombrias apresentam as melhores condições para o seu desenvolvimento; pouco exigente no que respeita ao tipo de solo, contudo prefere solos leves e frescos, sendo também possível encontrá-lo em solos secos e pedregosos.
Distribuição: distribuído por toda a zona mediterrânica; em Portugal pode ser facilmente encontrado de Norte a Sul, particularmente na zona mais a litoral.
Curiosidades: Na Idade Média, o louro constituía uma forma de honrar os “sábios” das universidades. Por exemplo, a coroa posta na cabeça dos jovens “físicos” saídos das escolas de medicina era feita de ramos folhosos de louro com bagas, e essa baga do louro, dita bacca laurea em latim, deu o nome ao título académico “bacharelato”. Existem diferentes teorias relativamente à forma como devemos utilizar o louro na culinária, há quem diga que se deve retirar a nervura central, que apenas se deve utilizar a folha seca, …
Colocar uns raminhos de louro junto aos cereais armazenados afasta o gorgulho.

Andreia Gama, in Quercus

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